por Tijs van den Brink
“Contos de fadas não dizem às crianças que
dragões existem. Crianças já sabem que dragões existem. Contos de fadas dizem
que dragões podem ser mortos.” G.K.
Chesterton
“Você pode facilmente perdoar uma criança por
ter medo do escuro. A real tragédia da vida, é quando os homens tem medo da luz.”
Platão
Devo
começar confessando que não sou pedagogo, nem tenho nenhuma formação na
psicologia da criança. Este texto é, portanto, de um amador, mas procede da
preocupação real com o bem estar de nossas crianças, principalmente as menores.
Também
não posso deixar de dizer que, pessoalmente, não sou a favor de crianças
pequenas assistirem televisão. Creio que todos nós precisamos ter limites em
frente a “telinha” para não nos perdermos no mundo imaginário, esquecendo-nos
do real a nossa volta (todos conhecemos aqueles que vivem mais dentro da novela
do momento que na sua vida real). Mas não vejo nenhum benefício que a televisão
possa trazer às crianças pequenas, principalmente porque, muitas vezes, é uma
forma dos pais se “livrarem” dos filhos por algumas horas. Sei que não sou uma
grande autoridade para falar do assunto já que ainda não tenho filhos. Mas por
causa da minha própria educação, e observando 5 irmãos mais novos sendo
educados, além de muitas famílias ao meu redor pela proximidade que a vida em
missões propicía, penso que talvez meus insights possam servir para alguém, e,
senão, pelo menos para a minha própria reflexão para com meus próprios filhos,
quando, pela graça de Deus, me forem concedidos.
Dito
isso, chego ao meu verdadeiro ponto nesse texto. Há algum tempo tenho “uma
pulga atrás da orelha” quanto a alguns dos desenhos que as crianças tem
assistido, mas, indo na contramão do que muitos dizem, não é pelo conteúdo
violento ou altamente sexualizado de muitos desenhos e filmes infantis (não
nego que estes estejam errados, e que você deva evitar que seus filhos os
assistam, mas é por razões muito mais óbvias, além de que muitos outros já se
expressaram sobre o assunto, que acho que nem precisamos discutir isso. Se
alguém quiser ver ou ouvir mais sobre isso, me dê um toque que posso falar a
respeito disso também). Minha preocupação é a respeito dos desenhos que são
inocentes demais. Aqueles desenhos em que
tudo é lindo, maravilhoso, colorido e perfeito.
Muito se diz que estes desenhos são
pedagógicamente corretos, que estimulam a criança com suas cores e movimentos,
repetições e musicas, etc. Que são inocentes e infantis. Mas uma frase de G.K.
Chesterton me fez pensar: “Contos de fadas não dizem às crianças que
dragões existem. Crianças já sabem que dragões existem. Contos de fadas dizem
que dragões podem ser mortos.” Muito se diz que os desenhos pervertem as
crianças, que ensinam a violência, a maldade, estimulam precocemente a
sexualidade e até que atrai as crianças ao ocultismo. Muitas pessoas querem
colocar nos desenhos animados a culpa pelos horrores que crianças cometem. Novamente,
não quero aqui entrar na discussão se alguns desenhos tenham o poder de fazer
isso ou não.
Porém,
como o Chesterton disse, os desenhos, os contos de fada, não ensinam as
crianças que a maldade, a monstuosidade, os “dragões” existem. Todas as
crianças sabem muito bem disso. Eles são confrontados com isso todos os dias,
nas suas casas, escolas e dentro de si mesmas. Sendo assim, minha preocupação
vai de encontro àqueles desenhos animados que tentam negar o fato da existência
do mal no mundo. Aqueles desenhos que tentam criar a ilusão de que o mundo, as
pessoas, os animais, que tudo é bom, perfeito e agradável.
Principalmente
para nós, como cristãos, creio que essa deve ser uma preocupação real, porque
se há algo que é claro na narrativa bíblica e na história é que a humanidade
não é perfeita, que o mal é uma realidade e que barbaridades e monstruosidades
são comuns e recorrentes. Sabemos da realidade da nossa depravação desde a
Queda descrita claramente em Gênesis 3, e que, desde então, o mal atingiu as
todos nós, e em todas as áreas da existência humana.
Não,
não são os desenhos que ensinam nossas crianças que há o mal, elas mesmas já
nascem com a maldade, com o pecado dentro de si. E, se não forem muito bem
educados, são capazes de cometer todo tipo de horror.
Por
isso, não creio numa educação que ignore a existência do mal, e, portanto, não
acredito em desenhos (supostamente) pedagógicos que o ignorem. Não, a educação,
os desenhos, os pais, nada disso ensina a criança que o mal existe, que os
dragões existem, disso ela sabe muito bem, pois o vê dentro de si mesma. Mas,
como disse o Chesterton, os contos de fada, os desenhos, nossa pedagogia nesse
sentido, devem ensinar que o mal pode, e deve, ser derrotado.
Porque
então os nossos desenhos chegaram a esse ponto? Para isso, creio que a frase de
Platão se aplica perfeitamente: “Você
pode facilmente perdoar uma criança por ter medo do escuro. A real tragédia da
vida, é quando os homens tem medo da luz.” A grande surpresa dos nossos
tempos não é que as crianças têm medo do escuro, isso elas sempre tiveram. Como
já disse antes, elas sabem que há algo de errado, e por isso sentem medo, por
exemplo quando são separados daqueles
que os protegem, ou, deveriam proteger, que são os pais. Por isso, não há nada
de errado se uma criança tem medo de ficar sozinha no quarto, no escuro (claro
que, se seu filho ainda sofre disso aos 16 anos é para se preocupar!). A real
questão, que fica explícita nessa questão dos desenhos, é o medo que os adultos
têm da luz.
Sim,
porque a questão que para mim, talvez não seja tanto que os adultos temem que
as crianças saibam que existe o mal, mas que eles (os adultos) querem evitar
essa questão. Na nossa era de relativismos se tornou muito difícil falar de
questões como maldade, erro, pecado, etc. De certa forma porque não é
políticamente correto. Quem sou eu para julgar se o que você crê ou faz é
errado (desde que não seja prejudicial para mim, claro), isso é relativo.
Depende da sua crença.
Mas
nisso tem outra questão, pois, se há o “mal”, se existe a “maldade”, há também
o “bem”. Por exemplo, muitas pessoas querem usar o Nazismo, e o Holocausto como
provas de que Deus não existe, “se Deus estivesse aí Ele tinha impedido que 6
milhões de Judeus fossem assassinados.” Mas o Holocausto não é a prova que Deus
não existe, mas a prova de que o mal existe, e que nós somos muito capazes de
cometê-lo. Como disse o teólogo Richard Niebuhr: “Se existe uma doutrina que tem prova empírica é a doutrina da queda.”O problema é que, se você reclama que o mal existe,
e, se você diz que o que os Nazistas fizeram é errado, é porque sabe que há um
bem, é porque sabe o que é certo, e que o mal é infinitamente condenável.
O
problema, portanto, está no fato que
filosóficamente os adultos querem viver sem fazer julgamentos morais,
sem precisar se pronunciar sobre o certo e o errado, sem confrontar luz e
trevas. Na prática, porém, é impossível viver sem saber o que é certo ou
errado. Na prática todos nós concordamos (ou, pelo menos, assim espero) que o
assassinato, o estupro e a pedofilia são errados.
(Uma
artigo interessante sobre esse assunto, escrito pelo Guilherme de Carvalho podeser lido aqui)
No
entanto, filosóficamente, os adultos querem evitar esse ponto, e para isso
querem adiá-lo enquanto puderem. Por isso querem que seus filhos assistam
desenhos água-com-açucar, em que tudo é lindo, maravilhoso, perfeito e puro, e
não há nenhuma idéia de mal, criando assim uma geração de crianças alienadas da
realidade do mundo, entupidos de programas coloridos, musicais, mas completamente
fora da percepção que as próprias crianças têm do mundo, a partir dos seguros (às
vez nem tanto...) sofás da sua casa.
Como então deveriam ser os desenhos ou
programas que as crianças assistem? Creio que um bom exemplo cristão seria “As
Crônicas de Nárnia”, do escritor C.S. Lewis. Se você não conhece dê uma olhada
aqui e depois corra para a internet para providenciar os livros! (Sim, porque a
ordem correta continua sendo, leia o livro e só depois assista o filme!!!)
As
Crônicas lidam, ao mesmo tempo e equilibradamente, com o encanto e com o
realismo. Lewis afasta-se tanto do água-com-açúcar
dos contos de fada cor de rosa, como da violência gratuita da "nova
literatura infantil" (como a veiculada por certos desenhos animados de
TV). Lewis prova, nos seus fantásticos
livros, que é possivel escrever para um público infanto-juvenil (mesmo que o
livro seja mais profundo que muitos livros que a maioria dos adultos lêem...),
sem precisar apelar ou para a ilusão ou para a violência.
Precisamos de uma nova geração de
programas infantis. Desenhos que mostrarão um mundo belo, colorido e
diversificado, pois é criação de Deus. Desenhos que mostrarão a realidade do
mal, da perversão, da depravação, pois houve a queda do homem. E desenhos que
serão cheios de esperança, de vitória do bem sobre o mal, de bondade, graça e
sacrifício, que mostram que os dragões são derrotados, pois há redenção.
E aí, alguém topa o desafio?
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"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."
Agostinho de Hipona