7 de dez. de 2011

TULIP - Os cinco pontos do Calvinismo - Introdução


A pedidos, vou explicar um pouco de um assunto complicado, mas extremamente necessário, que são os cinco pontos do calvinismo, ou, popularmente, o TULIP. Na verdade, me veio uma pergunta por explicações a respeito de um dos pontos, mas não acho que os pontos do calvinismo possam ser entendidos isoladamente pelas fortes conexões que um ponto tem com o outro.

Uma vez que essas cinco doutrinas não são apresentadas na Bíblia como unidades separadas ou independentes, mas são entretecidas na mensagem bíblica como um sistema único, harmonioso e interrelacionado, cada uma delas só pode ser inteiramente apreciada se for vista à luz das outras quatro. Elas se explicam e se apoiam, mutuamente. Julgar essas doutrinas individualmente, sem relacionar uma com a outra, seria como tentar avaliar um quadro de Rembrandt olhando-se para cada uma das cores de cada vez e nunca vendo a obra como um todo. Por isso, a evidência bíblica para cada ponto não deve ser julgada separadamente, mas à luz de uma visão das cinco doutrinas como um só sistema. Quando assim adequadamente correlacionadas, elas formam uma corda de cinco tiras de inquebrável resistência.

Os Cinco Pontos do Calvinismo

Os Cinco Pontos do Calvinismo tiveram sua origem a partir de um protesto que os seguidores de Jacobus Arminius (Jakob Herman, um professor de seminário holandês) apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de  “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto.

OS “CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO”

Os cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte:

1.  Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade.

2.  Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em particular, embora somente os que crêem sejam salvos.

3.  Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária para a fé ou qualquer boa obra.

4.  Essa graça pode ser resistida.

5.  Se todos os que são verdadeiramente regenerados vão seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior investigação.

Portanto, eles afirmam, as Escrituras devem ser interpretadas como ensinando as seguintes posições:
      
            1. O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho, uma vez que este lhe seja apresentado;

2.  O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo;

3.  A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da previsão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação;

4.  A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê;

5.  Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem.

Dessa maneira, o arminianismo faz a salvação do indivíduo depender, em última análise, do próprio homem, pois a fé salvadora é encarada, do princípio ao fim, como obra do homem, pertencente ao homem e nunca a Deus.

A REJEIÇÃO DO ARMINIANISMO PELO SÍNODO DE DORT E A FORMULACÃO DOS CINCO PONTOS DO CALVINISMO

Em 1618 foi convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita pelos Estados Gerais da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de 84 membros e 18 representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos.

Após um exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Além de rejeitar os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto. A tese mais tarde ficou conhecida como TULIP

T  Total depravity                              Depravação Total
U  Unconditional Election                Eleição Incondicional
L   Limited Atonement                      Expiação Limitada
I   Irresistible Grace                            Graça Irresistível
P  Perseverance of the Saints         Perseverança dos Santos   

Embora cause estranheza a muitos essa posição, devido à mudança teológica que as igrejas têm sofrido desde vários séculos, os reformadores eram unânimes em condenar o arminianismo como uma heresia ou quase isso. O sínodo restabeleceu todas as doutrinas que haviam sido sustentadas por praticamente todos os reformadores e pelo Pai da Igreja Agostinho de Hipona (354–430 D.C.), mil e duzentos anos antes. A salvação era vista como uma obra da graça de Deus, do começo ao fim, sem qualquer contribuição do homem. Essa posição pode ser resumida na seguinte proposição: Deus salva pecadores.

Ao contrário do que muitas vezes se diz, o centro do Calvinismo não é a doutrina da predestinação, mas sim a Soberania de Deus, a idéia de Deus como Soberano, tanto na criação como na redenção do universo criado por Ele. Pode se ver isso claramente nas Escrituras em passagens como Col. 1:15-20 e Rm. 11:33-36.

Deus é, portanto, Soberano sobre todas as coisas, inclusive a salvação. Como disse o profeta Jonas: “... Ao Senhor pertence a salvação.” Jonas 2:7. Por isso entendemos que a salvação depende de Deus, e não do homem. A graça é, nesse sentido, incondicionalmente uma dádiva de Deus.    


Por causa do espaço aqui no blog terei que dividir o estudo em algumas partes, mas isso não significa que estejam desconexos um dos outros.

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Para elaborar esse estudo usei amplamente os livros: TULIP – Os cinco pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras (Editora Parakletos) de Duane Edward Spencer (Disponível aqui), e Os Cinco Pontos do Calvinismo (Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended, Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos) (o segundo pode ser encontrado aqui)

Outros Recursos:

http://www.youtube.com/watch?v=Sy0e8Ok53S0 – John Piper sobre Depravação Total e Graça Irresistível

http://www.youtube.com/watch?v=AjxJdjFmh2M – John Piper sobre Eleição Incondicional

http://www.igrejaesperanca.org.br/podcast/series/3-os-canones-de-dort - Pr. Guilherme de Carvalho explica os 5 pontos. 




2 comentários:

"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona