A pedidos, vou explicar um pouco de um assunto complicado, mas
extremamente necessário, que são os cinco pontos do calvinismo, ou,
popularmente, o TULIP. Na verdade, me veio uma pergunta por explicações a
respeito de um dos pontos, mas não acho que os pontos do calvinismo possam ser
entendidos isoladamente pelas fortes conexões que um ponto tem com o outro.
Uma vez que essas
cinco doutrinas não são apresentadas na Bíblia como unidades separadas ou
independentes, mas são entretecidas na mensagem bíblica como um sistema único,
harmonioso e interrelacionado, cada uma delas só pode ser inteiramente
apreciada se for vista à luz das outras quatro. Elas se explicam e se apoiam,
mutuamente. Julgar essas doutrinas individualmente, sem relacionar uma com a
outra, seria como tentar avaliar um quadro de Rembrandt olhando-se para cada
uma das cores de cada vez e nunca vendo a obra como um todo. Por isso, a
evidência bíblica para cada ponto não deve ser julgada separadamente, mas à luz
de uma visão das cinco doutrinas como um só sistema. Quando assim adequadamente
correlacionadas, elas formam uma corda de cinco tiras de inquebrável
resistência.
Os
Cinco Pontos do Calvinismo
Os Cinco Pontos do Calvinismo tiveram sua origem a partir de um protesto
que os seguidores de Jacobus Arminius (Jakob Herman, um professor de seminário
holandês) apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de
seu líder. O protesto consistia de
“cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou
conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido
arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda
(Confissão Belga e Catecismo de
Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista
doutrinários contidos no Protesto.
OS “CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO”
Os cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte:
1. Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade.
2. Cristo morreu por todos os homens, em geral, e
em favor de cada um, em particular, embora somente os que crêem sejam salvos.
3. Devido à depravação do homem, a graça divina é
necessária para a fé ou qualquer boa obra.
4. Essa graça pode ser resistida.
5. Se todos os que são verdadeiramente
regenerados vão seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior
investigação.
Portanto, eles
afirmam, as Escrituras devem ser interpretadas como ensinando as seguintes
posições:
1. O homem nunca é de tal modo corrompido
pelo pecado que não possa crer salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho,
uma vez que este lhe seja apresentado;
2. O homem nunca é de tal modo controlado por
Deus que não possa rejeitá-lo;
3. A eleição divina daqueles que serão salvos
alicerça-se sobre o fato da previsão divina de que eles haverão de crer, por
sua própria deliberação;
4. A morte de Cristo não garantiu a salvação para
ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal
dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que
crê;
5. Depende inteiramente dos crentes manterem-se
em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto,
desviam-se e se perdem.
Dessa maneira, o
arminianismo faz a salvação do indivíduo depender, em última análise, do
próprio homem, pois a fé salvadora é encarada, do princípio ao fim, como obra
do homem, pertencente ao homem e nunca a Deus.
A REJEIÇÃO DO ARMINIANISMO PELO SÍNODO DE DORT E A FORMULACÃO DOS
CINCO PONTOS DO CALVINISMO
Em 1618 foi convocado
um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os pontos de vista
de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita pelos Estados Gerais
da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de 84 membros e 18
representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça,
Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses de duração do
Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos.
Após um exame
minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da época,
representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu
que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser
rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Além de rejeitar
os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a
respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então,
conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido
grande defensor e expositor desse assunto. A
tese mais tarde ficou conhecida como TULIP
T Total depravity Depravação Total
U Unconditional Election Eleição Incondicional
L Limited Atonement Expiação Limitada
I
Irresistible Grace Graça Irresistível
P Perseverance of the Saints Perseverança dos Santos
Embora cause estranheza a muitos essa posição, devido à mudança
teológica que as igrejas têm sofrido desde vários séculos, os reformadores eram
unânimes em condenar o arminianismo como uma heresia ou quase isso. O sínodo restabeleceu todas as doutrinas que haviam sido sustentadas por
praticamente todos os reformadores e pelo Pai da Igreja Agostinho de Hipona
(354–430 D.C.), mil e duzentos anos antes. A
salvação era vista como uma obra da graça de Deus, do começo ao fim, sem
qualquer contribuição do homem. Essa posição pode ser resumida na seguinte
proposição: Deus salva pecadores.
Ao contrário do que muitas vezes se diz, o centro do
Calvinismo não é a doutrina da predestinação, mas sim a Soberania de Deus, a
idéia de Deus como Soberano, tanto na criação como na redenção do universo
criado por Ele. Pode se ver isso claramente nas Escrituras em passagens como
Col. 1:15-20 e Rm. 11:33-36.
Deus é, portanto, Soberano sobre todas as coisas,
inclusive a salvação. Como disse o profeta Jonas: “... Ao Senhor pertence a salvação.” Jonas 2:7. Por isso entendemos que
a salvação depende de Deus, e não do homem. A graça é, nesse sentido,
incondicionalmente uma dádiva de Deus.
Por causa do espaço aqui no blog
terei que dividir o estudo em algumas partes, mas isso não significa que
estejam desconexos um dos outros.
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Para elaborar esse estudo
usei amplamente os livros: TULIP – Os
cinco pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras (Editora
Parakletos) de Duane Edward Spencer (Disponível aqui), e Os Cinco Pontos do Calvinismo (Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended, Documented, de
David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian & Reformed
Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos) (o segundo pode ser encontrado aqui)
Outros Recursos:
http://www.youtube.com/watch?v=Sy0e8Ok53S0
– John Piper sobre Depravação Total e Graça Irresistível
http://www.youtube.com/watch?v=AjxJdjFmh2M
– John Piper sobre Eleição Incondicional
http://www.igrejaesperanca.org.br/podcast/series/3-os-canones-de-dort
- Pr. Guilherme de Carvalho explica os 5 pontos.
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